Agressividade depende da raça?

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Por quê algumas raças são mais agressivas que outras? Por quê um cão é agressivo? Existem pit bulls dóceis? Essas são algumas perguntas que nos fazemos de vez em quando. Esse artigo vai esclarecer para você a respeito da agressividade e por quê algumas raças são mais agressivas que outras.

Nos últimos anos, os estudos sobre o comportamento dos animais se intensificaram. Com o “boom” de notícias sobre ataques de cachorros às pessoas, ataques de pit bull e outros ataques até de cães contra seus donos, foram feitas diversas pesquisas sobre a agressividade em cães.

A agressividade canina está relacionada, segundo pesquisadores, com diferentes fatores, que vão daqueles ligados ao meio ambiente até os relacionados às características biológicas dos animais (presentes na raça).

Nikolaas Tinbergen, Karl von Frisch e Konrad Lorenz são referências nos estudos sobre comportamento animal. Lorenz ressaltava, em 1963, em seu livro “Sobre a agressão”, que a agressividade nos animais tem um papel positivo para a sobrevivência da espécie, na manutenção do território, por exemplo.

A veterinária Hannelore Fuchs afirma que existem vários “tipos” de agressividade, vários fatores que podem desencadear um ato agressivo. Uma forma mais simples de listar os tipos de agressão do ponto de vista biológico, é por meio das categorias apresentadas em um livro da Associação de Conselheiros de Comportamento Animal (APBC Book of Companion Animal Behaviour):

– a agressão relacionada à posse de recursos (necessários para sobrevivência);
– agressão por medo
– agressão resultante de um causa física.

Ao mesmo tempo, Hannelore afirma que essa classificação não colabora muito para compreender casos específicos, quando um cão ataca uma pessoa.

O veterinário Mauro Lantzman afirma que a agressão deve ser compreendida sempre no contexto específico de seu acontecimento. Segundo ele, a agressividade está presente em vários comportamentos e, por isso, não deve ser entendida como um comportamento em si, mas como parte ou componente de vários comportamentos: “Existe a agressividade para proteger o território, ou os filhotes, no momento da caça, da dor, do medo. Nesse sentido, dizer que um cachorro é agressivo em termos gerais, não quer dizer absolutamente nada. É necessário entender quando ou em quais situações o cachorro é agressivo. Por isso, é necessário avaliar individualmente o caso, para poder abordar essa agressividade”, diz Lantzman. O médico acrescenta que os cuidados com o cão também podem torná-lo agressivo como, por exemplo, quando é estimulado a ser agressivo com outros cães, sofre privações, maus tratos ou quando não é adequadamente socializado e convive pouco com pessoas.

Complicado esperar que um cão que vive há 2 anos preso em um canil, recebendo comida pela grade, seja dócil, amigo e amável com seres humanos.

petrede-rottweilerDe acordo com os dois especialistas, existem raças consideradas mais agressivas que outras, tais como pit bull, dogo argentino ou rottweiler. No entanto, não se pode atribuir a agressividade apenas à raça. Hannelore fala que há uma predisposição genética artificialmente obtida através de cruzamentos, ou seja, cães de mesma raça ou de raças diferentes, com uma tendência mais agressiva, reproduzem-se gerando cães também agressivos. “Eles são, portanto, geneticamente propensos para a agressão. São animais selecionados para reagir de maneiras específicas em determinadas situações”, diz ela. Lantzman adiciona a essa explicação a idéia que existem raças, por exemplo, selecionadas para serem cães de guarda, mas que têm uma agressividade mais estável, por serem mais antigas, como o rottweiler, e outras menos estáveis e mais recentes, como o pit bull.

Mônica Grimaldi, advogada especialista em causas envolvendo animais e criadora de cães, conta que a raça rotweiller existe há mais de dois mil anos e foi utilizada como animal de tração, sendo mais recentemente direcionada para ser um animal de guarda. Hannelore afirma que a seleção de animais é feita pelo homem há muito tempo, não apenas com relação à agressividade, para se obter cães de guarda para proteção, mas também para outras características, como a docilidade, a passividade, ou a sociabilidade.

Esse panorama não significa, portanto, que dentre as raças consideradas mais agressivas não existam indivíduos dóceis. “Tem sido comum encontrar cães de raças como labrador, poodle, e cocker spaniel mais agressivos, por um erro no cruzamento entre animais com essa característica predominante”, diz Lantzman, destacando que diferente do que ocorre em países europeus não existe nenhum tipo de controle sobre o cruzamento ou o desenvolvimento de raças mais agressivas. Para Grimaldi, há uma questão mercadológica envolvida nisso também, pois existe mais procura por cães agressivos na atualidade, por uma questão de segurança, e criadores pouco responsáveis cruzam os animais com esse intuito, inclusive para rinha de cães, prática ilegal no país.

Com relação à procura por animais mais agressivos, além de estar atribuída à insegurança nas cidades, o zootecnista Alexandre Rossi e Hannelore apontam uma outra possibilidade. Ele destaca que muitas vezes a procura por animais extremamente agressivos revela a necessidade do dono do animal de realizar ou extravazar a própria potência ou desejo socialmente reprimido de agressividade ou violência. Para Hannelore, essa idéia não funciona em todos os casos, mas ela concorda que muitas vezes o animal torna-se símbolo de uma potência da qual o homem quer se apropriar.

Existem ainda casos de animais com distúrbios de agressividade, nos quais o limiar para inibir o comportamento agressivo é muito baixo. Quando esses animais se reproduzem entre si geram cães também com distúrbio de agressividade, o que pode significar conseqüências graves para o ser humano.

Rossi defende que, apesar de existirem raças de cães mais agressivas, não é possível condená-las por serem mais agressivas que outras. A definição da agressividade em um cão deve ser avaliada a partir dos casos individualizados. Todos os quatro especialistas concordam com essa postura. Segundo Rossi, cruzamentos de indivíduos agressivos podem resultar em gerações agressivas, em quaisquer raças, inclusive naquelas consideradas mansas ou dóceis. Nesse sentido, na opinião do zootecnista, as propostas legais que visam esterilizar determinadas raças, com o intuito de evitar os ataques de cães a pessoas, não são eficientes. Ele acrescenta que também é possível, com poucos cruzamentos de animais menos agressivos, ter como resultado gerações mais dóceis, podendo isso ser feito para qualquer raça.

Fonte: Tudo Sobre Cachorros

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